Prezado ET,
Você me contatou demonstrando curiosidade sobre nós, humanos, então te escrevo palavras que brotam de uma experiência pessoal e não de um estudo antropológico. Faço isso na esperança de tocar o seu coração para que se compadeça da nossa condição débil de viver e a partir daí, o seu pessoal decida se invadir o planeta Terra é válido para alguma coisa.
Te convido a perceber que por aqui existe um ciclo sem fim que começa e se encerra nos personagens que cada ser humano performa, algo assim:
Fotocolagem da artista Hannah Hoch
Eu sou uma senhora cheirosinha, dona de uma casa impecavelmente limpa, que cozinha em panelas lustrosas. Me realizo sempre que meus netos me visitam nos almoços de domingo (faço o meu melhor para que não me faltem elogios, inclusive), e estou fadada a tricotar enquanto escuto futebol na TV com o volume no talo. Ah! Adoro aquecer a barriga no forno quente.
Também sou uma artista desapegada das coisas mundanas, minha casa é limpa, mas vive uma zona e convivo super bem com isso, mesmo porque sempre tenho uma ideia de arte que precisa ser extravasada. Não me alimento de nada que venha de bicho morto, me cuido com tudo do que é mais natural e tenho um sonho de me mudar dessa metrópole sufocante para uma área rural, onde eu possa cuidar da terra e respirar um ar de qualidade.
Sou um homem cis heteronormativo que só sai de casa com a camiseta do time do coração ou com a boa e velha camisa polo que me acompanha no trabalho, sinto um imenso prazer em lavar meu carro aos domingos, e não posso deixar de te contar o melhor dos meus dias: sentir que sou muito poderoso sempre que a gatinha estagiária sorri quando lanço alguma investida, adoro as meninas novinhas e seu olhar me revigora.
E te conto mais, camarada, quem se atrever a desmantelar qualquer uma das personagens que o humano acredita ser SUA, se tornará inimigo dessa pessoa. É isso, daí nasce tudo tudo tudo o que construímos até aqui.
Se você for mesmo inteligente, caro ET, acho que já entendeu que por aqui só existe paz para mim, que sou Gratiluz, não é mesmo? Pra mais quem poderia haver a desejada paz?
Brincadeirinhas à parte, peço que você e os comparsas que lerem esta carta, tomem a decisão que acharem mais adequada. Mas vou já avisando que acredito mesmo é que a tarefa de destruir essa raça que vos escreve, já está encargo de nós mesmos, os humanos, tá ok? ◘
Post por Lina Molina:
Co-fundadora do ashram cultural Ave Venus, provocadora da vivência PsicoDetox e Rodas de Mulheres, cozinheira e organizadora dos Retiros, também leciona Direção de Arte para cursos de Cinema de Animação.
Comments