O humano perante a morte
Atualizado: 27 de jul. de 2022
Este post inaugura o Blog do Ave Venus com o mix de Arte e "Autoconhecimento", temperado com material orgânico e sintético do filme mais recente do Cronenberg: Crimes do Futuro (2022).
Saí do cinema atônita, porém com o corpo chamando por expressão. Era algo que mais parecia uma confusão entre êxtase com asco e medo. Havia ali algo novo pra mim: o prazer em perceber a presença dos órgãos do corpo e a eletricidade que me mantinha viva!
Já em casa, começando a balbuciar umas primeiras palavras, um transbordar de impressões foi, naturalmente, saindo pela boca, e é esse frescor que compartilho neste post.

Um novo corpo surge! Ou melhor, uma nova espécie! Por isso, vejo que o Humano diante da Morte iminente da humanidade é o grande tema deste filme tão atual e necessário.
Uma mãe mata o próprio filho, alguns comem plástico, outros agonizam em uma "cama-criatura", mutilações são performances artísticas... a lista que tiraria muitos "gratiluzes" da sala, é imensa, porém nada está gratuito ali, não para quem estiver disponível para a experiência de uma obra do Cronenberg.
E para além de toda a beleza óbvia (para olhos treinados), como: aspectos fotográficos e de direção de arte, está a união dessa loucura visual com a genialidade do conteúdo e que coloca reflexões que iluminam pontos escuros da sociedade hipócrita que nos consolidamos.
Plástico - material essencial
Na contemporaneidade, o plástico já se desgastou como assunto em obras conceituais e populares, tudo válido na tentativa de nos chacoalhar diante do uso indiscriminado deste material, mas nada comparado com o protagonismo que o plástico ganhou no filme, ao se tornar parte importante da mutação humana, deste novo ser que está por vir, em contraponto ao que o plástico representa na sociedade hoje: algo externo, artificial e descartável, porém essencial e protagonista de tantas destruições e guerras.
A gestação
Este filme trata de uma espera, de algo que está no forno. A personagem diz: "I'm cooking" _ De fato, ela está sempre gestando algo novo, algo que não sabe o que é, e que está prestes a virar material para a performance artística.
O curioso é que a personagem que "espera" é um homem e a que o perfura e penetra é uma mulher! (o perfura com um dispositivo em formato de vulva). Troca interessante do papel social e biológico que se espera entre homens e mulheres. Vejo que, se a gestação fosse da mulher, este filme teria um tanto de decepção pra mim.
