Ele, quando criança, era todo gracinha, adorava ser o centro das atenções e de brincar de atuar para o pessoal da família, especialmente, para seu avô que a essa altura da vida, já estava pra lá de Bagdá, e se divertia horrores com as palhaçadas do neto.
Uma vez, numa de suas atuações, pintou o rosto de vermelho com o batom da avó, e acreditando ser o próprio Satanás, entrou na sala onde estavam prima, tia, avó e mãe. A vontade do menino era de chocar e de, mais uma vez, brincar, mas na verdade ele queria escandalizar! Alguns se entreolharam com expressões de reprovação e a prima tomou à frente da situação, como lhe cabia bem o papel nesse palco familiar, e levou o pobrezinho para des-vermelhar a face.
O que queriam mesmo, era manter as aparências, a neve da paz familiar e passar uma borracha branca nessas coisas.
Essa passagem o marcou por muito tempo, algo ficou reprimido nele, criou-se uma prisão, que não se sabe se aconteceu no estômago, no coração ou na garanta. Talvez nos três em fases diferentes. O ponto é que se esse Vermelho tivesse ganhado olhares de aprovação, o caminho do bom moço teria sido outro...
O tempo passou e um carinha perfeito e sem “vermelhidades” cresceu como tantos outros crescem, cumprindo seus deveres à obediência diante de uma assombrosa realidade de palcos cinzas.
E diferente da amada que encontraria logo menos, demorou para perceber sua sexualidade. Apesar de gatinho, ainda era muito inocente para as meninas da sua idade. Quando tinha 10, algumas meninas já trocavam bonecas por batons, enquanto ele se escondia nos videogames e na magrela de rodas.
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